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Moura

É a cidade da margem esquerda do Guadiana. Branca. Antiga e moderna. Orgulhosa e altiva. Alguém lhe chamou Sintra do Alentejo. Talvez pela abundância de águas. Talvez pelo encanto da lenda da princesa moura, Salúquia. Lançou-se da torre de menagem do castelo ao ver em perigo a segurança da sua cidade, quando percebeu que por trás das roupas do seu amado príncipe muçulmano estavam cristãos.

Moura. Das gentes enchendo a Praça Sacadura Cabral nas noites quentes de Verão, sob o olhar imponente das muralhas do castelo. Do tempo do rei Lavrador, mas onde ainda são visíveis vestígios da antiga fortaleza islâmica.

Moura. De ruas estreitas e sinuosas na Mouraria. Do poço árabe e do tradicional lagar de varas. Do museu municipal. Do pátio do Solar dos Rolins. Do belo portal manuelino da Igreja de S.João Baptista (Monumento Nacional). Dos apontamentos assombrosamente elaborados da arquitectura popular. De frescas abóbodas e abobadilhas nas casas mais simples onde ainda respiram as paredes de taipa. Do edifício oitocentista dos Quartéis. Da Igreja de S.Francisco.

Mas Moura não é apenas a sua memória cultural lida através do património. É também um verdadeiro encontro de conversas e sabores à volta de um petisco. Noite fora que a manhã já é outro dia. E essa convida ao respirar fresco no Jardim público ou a um mergulho nas Piscinas Municipais. È também os mercados e as feiras. As tradicionais e as das novas temáticas à volta das preocupações e interesses dos dias de hoje. O artesanato, o gado mertolengo, o azeite, o ambiente.

A cidade respira os novos tempos. E protege as velhas tradições. Tão bem se sente isso na procissão de Nossa Senhora do Carmo. Nos cânticos enchendo a rua, já entrada a noite. Reminiscência de um velho país de novos trajes.

À volta de Moura as "aldeias" do concelho compõem o mosaico que completa este concelho. Põe estradas e caminhos que o bordam de duas paisagens bem distintas. Os barros vermelhos de oliveira, trigo, vinham, girassol e melão; o ondulado intenso da serra da Adiça, da Contenda e da fronteira com a Espanha, em que a oliveira entremeia serros de azinheira e esteva. O branco, sempre o branco, marca esses aglomerados de gentes. Casas térreas. Cal. Telhas de meia cana.

Santo Amador dá-nos uma colecção de tantas chaminés no casario rasteiro. E os extensos campos semeados. De barros fundos em contraste com as terras "brabas" menos frequentes. Daí o velho nome de Santo Amador das Barradas que poucos se recordam ainda. Terra recente de tradições agrícolas.

Em Safara a Igreja matriz de tantos lavrados de mármore branco, marca a aldeia pela sua imponente beleza. Mais singela, carregada de cal, a Ermida de Santa Ana. Símbolos de uma religiosidade ancestral que marcava a região. Tão vísivel nas cerimónias da Semana Santa.

Já de maõs dadas com a Espanha, Santo Aleixo, a heróica, divide-se entre a concêntrica parte antiga, guardada pela igreja, e o extenso rectilíneo do cerro fronteiro. Freguesia onde predomina o montado, Santo Aleixo da Restauração acolhe um território conhecido pela sua riqueza natural e ambiental. A Contenda.

Divide os cerca de 13.000 hectares entre o concelho de Moura e os ayuntamientos espanhóis de Encinasola e Aroche. Aí nidificam espécies já tão raras, como o abutre-negro ou a águi-real que pasmamos ao ver o planar tão gentil dessas aves. Ou o correr ágil dos veados. Ou a correria inesperada de raposas. Ao lado, o Convento da Tomina. Esquecido entre barrancos e azinheiras. Um tesouro abandonado à espera que os homens o redescubram.

Aos pés da serra o Sobral da Adiça esconde-se e resguarda-se entre olivais. Extensos olhares de árvores aprumadas em parcelas bem arrumadas.

No caminho para o Guadiana a Póvoa de S.Miguel e a Estrela. Cada uma marcada pela diversidade que marca esta região. As minas da Orada vão dando nome a uma realidade que fez durante milénios da margem esquerda uma região rica. A extracção de minério. Pouco mais sobra que algumas casas e a capela. E a memória. Essa que nos fala da importância das Minas de Rui Gomes desde a época romana.

E a Amareleja. Hoje vila, mas que foi até há bem pouco tempo uma das maiores aldeias do país. Terra de bons vinhos. De boas tapas entrando tarde dentro. De gentes conhecedoras da ribeira, da pesca à lapa, da lembrança dos barcos do Ardila.

O concelho de Moura é sem duvida aquele que mais tem sofrido a intervenção do homem. Desde há milénios, como se percebe pela intensa e rica presença de sítios arqueológicos que aí se encontram.

Na exploração e aproveitamento dos seus recursos naturais. Nas artes e actividades lúdicas. Não deixa de ser aquele onde ainda é mais fácil constatar a sobrevivência de artes tradicionais; o cheiro dos fornos de carvão de azinho; o sabor fino do azeite; o correr doce do vinho.

Entre a planície e a serra, Moura encosta-se a poente ao Guadiana.

Desde a ribeira de Alcarrache ao barranco de Vale das Covas. Um percurso pleno de beleza deste rio tão diferente cada ano e cada mês. Um troço tão cheio de histórias e de memórias onde não faltam mais de dez moinhos para a moagem dos trigos saídos da planície; ou os pisões para tratar a lã bruta. Como os moinhos da Barca ou a azenha de Cid Almeida. Hoje silenciosos e abandonados pelo tempo.

Mas o rio Guadiana, referência de passagens e caminhos, é também a ponte romana e a Atalaia Magra, os portos e barqueiros. Esquecidas as suas funções, mas não a sua memória. E este Guadiana de Moura é também o Ardila. O afluente que recebe as ribeiras deste concelho. O Murtigão, a Safareja, a Toutalga, a de S.pedro a de Brenhas. Cursos de água cada um dos percursos, traçados, histórias, memórias e vidas tão distintas, mas ricas do património que envolvem. Natural e cultural. Cada localidade do concelho tem aí os seus moinhos, as suas vargens, os seus recantos de pesca.

Moura é a cidade da margem esquerda, mas aqui resistem outros compassos de contar os tempos, e os homens, e as suas artes.

Miguel Rego

Última actualização
Domingo, 8 de Agosto de 2010
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