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Serpa

A Serpa chamam-lhe Vila Branca e faz juz ao nome que empossa. Mas estará sempre ligada à memória dos fins de tarde em que entoavam pelas ruas da vila os cantes dos grandes ranchos de ceifeiros vindos dos campos. A vila altiva e os seus homens orgulhosos.

Branca, vista de longe, como que subida num patamar. Mostrando a vegetação tão farta dentro das suas muralhas. Laranjeiras, limoeiros, romãzeiras, uma ou outra figueira, amendoeiras. Invocando um estar mediterrâneo.

O casario térreo e as ruas empedradas. Ferros forjados nas janelas. E a monumentalidade da entrada do velho burgo. De torreões redondos. Mas também a água. A nora quase branca que através do aqueduto levava a água ao Palácio dos Melos.

Serpa assume uma certa nobreza na malha urbana. Senão veja-se a monumentalidade da escadaria da Igreja de Santa Maria e depois o Castelo Velho com a sua entrada mostrando um episódio de "estórias" de tempos passados. O duque de Osuna, antes de se retirar de Serpa, no século passado, num dos episódios da Guerra da Secessão espanhola em que Portugal se viu envolvido, fez estoirar o paiol da fortaleza. Um maciço bloco muralhado está suspenso sobre a rua de acesso à Alcáçova.

Do passado a vila tem tudo por mostrar. Em cada esquina e recanto. Em cada pedra e fachada. Na dignidade das gentes e nas artes dos seus artesãos. E esse passado quase se toca no Museu Arqueológico, localizado no castelo, no Museu Etnográfico, recuperado para essas funções o velho Mercado Municipal ou no Museu do Relógio, próximo da Praça da República. Gentes e espaços estes que no cortejo etnográfico das festas da Semana Santa, se transformam numa profunda manifestação da cultura da região. Imagens de um mundo rural que se vai perdendo todos os dias. De religiosidade fala também a arquitectura religiosa dentro e fora da vila. A Igreja da Misericórdia ou o Convento de Santo António; A Senhora da Saúde ou a Capela de S.Gens.

A partir de S.Gens, onde se localiza a Pousada, o espaço não tem fronteiras. Perde-se desde as planuras vastas do poente até à Serra de Ficalho e os Picos de Aroche para as bandas de Nascente. Do Guadiana até ao Chança. Tocando a fronteira com a Espanha por Vila Verde de Ficalho.

O título de condado foi dado à vila e seu termo por Filipe III de Espanha em 1590. Mas a vila é mais do que o vestígio da tentativa de separação de Serpa. Aliás, o seu passado remonta a muitos mais séculos antes. Desde pelo menos o Neolítico, quando as pequenas comunidades humanas corriam aquela região aproveitando a fertilidade das terras do sopé da serra e das vargens do Chança.

Esses vestígios encontram-se sucessivos com mais de 5000 anos de história, no local onde se ergue a igreja de S.Jorge, construída no século XVI. Assenta sobre uma basílica paleocristã do século VI/VII, onde ainda é vísivel o baptistério. Desses e outros instantes da história desta região fala-nos o simpático museu local. Ou a biblioteca onde se pode ver uma colecção de pintura com quadros de alguns dos mais importantes pintores portugueses deste século. Fruto do esforço do Conde de Ficalho que, igualmente editou uma obra fundamental para melhor conhecermos a realidade etnográfica e antropológica do nosso país e da nossa região. A Tradição. E as festas de Ficalho se de tradição falamos e as palavras multiplicam-se quando a conversa fica boa.

Mas de Ficalho para a Serra o nosso olhar perde-se nos extensos olivais e nas surpresas paisagísticas desta zona. Vistas há que a vista não alcança. Chança abaixo entrando na serra. Por entre montado e figueiras. Começam os grandes rebanhos. Daqueles que dão nome ao queijo de "Serpa", de que toda a região é rica.

E entre Vales Mortos e a Neta, montes e montes dão vida a terras pobres, mas feitas honra e pão para centenas de famílias. Dispersas. Mas encontrando-se nas festas das Cruzes, ali tão próximo de Vila Nova de S.Bento, que há que pagar promessas que a fé alimenta a vida.

De Ficalho para a Crespa daqui por toda a serra a paisagem vai variando sempre por trás de cada serro. De pastagens e alqueve; de azinho e esteva. Aqui e ali o monte e o poço e a horta. Região rica em espécies de fauna quase raras. Toutinegras, felosas, tartaranhões, águias cobreiras. Cegonha preta, nas arribas do Guadiana e do Pulo do Lobo, que também é de Serpa, entrando pelas Fábricas.

Nesta serra ainda se apanha a cortiça, os esparragos, das colmeias ainda se tira o mel. E o queijo. E a manteiga de ovelha. E que nacos de presunto com pão caseiro.

Serpa junta dentro do seu território um pouco a riqueza de toda a margem esquerda. Em Pias o vinho; o azeite em Brinches; as rochas ornamentais em Ficalho; o figo na zona de Vila Nova de S.Bento. Por todo o concelho elementos fundamentais do património cultural, histórico e arqueológico da região.

Da Serra para a planície, a ribeira de Limas é uma espécie de fronteira. E a porta Santa Iria. Aldeia pequena, estendendo-se ao rés da estrada, mas com uma pequena capela de estranha beleza. Cal sobre cal. Nas portas, tinta sobre tinta. O interior com pinturas populares do período de seiscentos. Centenas de anos protegendo os santos, que os favores aos deuses pagam-se na terra.

Serpa é também os moinhos do Guadiana e a zona da planura com os imponentes montes agrícolas. De velhos e novos tempos. Quase todos eles sobre villas romanas. Mas a Cidade das Rosas pode ser o tesouro que falta a Serpa. Hoje, pouco mais se vê que o local. Mas outros tempos virão para esta margem esquerda.

Como outras águas, que a barragem do Enxoé, que também é Guadiana, já está a encher para levar água para o concelho e para Mértola. Mais um espelho de água neste concelho onde não podemos ignorar a Barragem do Facho.

Serpa, a vila branca, num concelho de muitas cores e gentes. Entre a planície e as serras. Entre o Guadiana e o Chança.

Miguel Rego

Última actualização
Domingo, 8 de Agosto de 2010
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